Radar da Economia: Expectativas para a inflação em 2021
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro foi divulgado e ficou em 1,35%. Depois dessa publicação, o debate sobre os riscos para a dinâmica da inflação em 2021 ficou ainda mais aquecido.
Essa taxa superou a mediana e o teto das expectativas de mercado em 1,22% e 1,27%, respectivamente, segundo o Broadcast. Além disso, a abertura mostrou aceleração dos núcleos e avanço do indicador de difusão. Houve indicação de altas mais disseminadas, e uma luz amarela foi acesa sobre as expectativas.
Outro ponto relevante é que se pode chegar ao mesmo diagnóstico ao observar a abertura do IPCA-15 de janeiro, publicado na última semana de janeiro. Apesar disso, o headline veio levemente abaixo do esperado, em 0,78%. O consenso de mercado ficou em 0,81%.
Nesse contexto, discutimos neste Radar da Economia os possíveis impactos dos principais fatores de pressão do nosso balanço de riscos. O objetivo é mensurar a sensibilidade da nossa projeção de 3,4% para o IPCA em 2021.
Cenário da inflação
O primeiro passo é considerar os principais riscos para a inflação:
- combustíveis: estão muito relacionados à dinâmica dos preços do petróleo no mercado internacional;
- commodities agropecuárias e industriais: são sensíveis ao crescimento global e às variações do quadro climático, que podem gerar impactos na oferta;
- taxa de câmbio USDBRL: é sensível ao risco fiscal doméstico e às condições financeiras internacionais.
Veja como ficam os cenários para cada um dos casos.
Combustíveis
A Petrobras já elevou o preço da gasolina na refinaria duas vezes até o final de janeiro de 2021. A alta de 5% no dia 27 de janeiro foi o segundo crescimento e veio após um reajuste de 7,9% na semana anterior.
Vale destacar que, mesmo com esses movimentos, a defasagem ante o preço externo ainda persiste. Inclusive, é até ampliada devido à depreciação do real. Além disso, ressaltamos que os reajustes, geralmente, não zeram a diferença em relação ao preço internacional. Com isso, o momento para a tomada de decisão não segue uma regra mecânica, seja para a redução, seja para o aumento de preço na refinaria.
As tabelas a seguir ilustram a sensibilidade (em pontos-base – bps) da nossa expectativa de 3,4% para o IPCA em 2021, em relação a determinadas combinações de variáveis.
Caso a taxa de câmbio e o petróleo do tipo Brent se consolidem nos níveis atuais — por volta de USDBRL 5,45 e 55 dólares, respectivamente —, o impacto potencial é de cerca de 5 bps em nossa projeção. Consideramos como hipótese que uma defasagem positiva ou negativa de até 7% não implica, necessariamente, um reajuste. Isso é representado pelas células com coeficiente 0.
Também analisamos que o repasse da gasolina na refinaria para a bomba é de cerca de 30%. Os coeficientes de impacto podem ser elevados ou reduzidos conforme a atividade econômica ganha ou perde tração. Portanto, em uma economia mais aquecida, por exemplo, o grau de repasse ao varejo aumenta.
Commodities agropecuárias
A análise utiliza o CRB Food e o USDBRL. A base foi estabelecida com o dólar a R$ 5,25 e o CRB Food em 365 dólares.
Mantido o nível de 365 dólares para o indicador de commodities agrícolas e taxa de câmbio em R$ 5,45, o impacto potencial é de 29 bps. Isso levaria nossa projeção para aproximadamente 3,7%, pouco abaixo do centro da meta de 3,75%.
Commodities industriais
Os índices utilizados são o CRB Industrials e o USDBRL. Observa-se que a sensibilidade é menor em comparação às commodities agropecuárias. Além do mais, uma combinação de CRB Industrials em 540 dólares e câmbio a R$ 5,45 teria o potencial para elevar a projeção do IPCA em 13 bps.
Expectativas para a inflação
A trajetória para o IPCA acumulado em 12 meses mostra que o limite superior da meta (5,25%) será rompido em abril. O pico ocorrerá em junho (6,42%), mesmo mês em que a média dos núcleos em 12 meses deve ultrapassar o centro da meta de 3,75%. Veja no gráfico a seguir.
Esperamos que a variação MM3M SAAR tanto do headline quanto dos núcleos recue nas próximas leituras, após o pico registrado em dezembro.
Outro ponto relevante é que, no segundo semestre, as métricas de MM3M SAAR apontam para tendência de baixa para o IPCA e os núcleos. Caso esse cenário se configure, traria mais conforto ao Banco Central para interromper o ciclo de altas da taxa Selic em outubro. Isso ocorreria após quatro altas de 50 bps distribuídas nas reuniões de maio, junho, agosto e setembro.
Nosso balanço de riscos aponta para assimetria com viés de alta em nossa projeção de 3,4% para o IPCA em 2021. O motivo é um possível prolongamento de pressões em bens industriais e arrefecimento mais gradual das altas em alimentos devido a aumentos recentes dos preços de commodities agrícolas e ao cenário de clima menos favorável.
Mesmo considerando essas questões, neste primeiro trimestre de 2021, as leituras mensais esperadas para o IPCA são de:
- janeiro: 0,33%;
- fevereiro: 0,43%;
- março: 0,27%.
Esses resultados devem mostrar taxas bem mais moderadas do que as observadas no último trimestre de 2020, que foram de:
- outubro: 0,86%;
- novembro: 0,89%;
- dezembro: 1,35%.
Agora, veja como devem ficar os resultados de anos anteriores e as projeções atualizadas para os indicadores:
- IPCA: 4,3% em 2019, 4,5% em 2020, 3,4% em 2021 e 3,5% em 2022;
- câmbio: R$ 4,03 em 2019, R$ 5,20 em 2020, R$ 5,10 em 2021 e R$ 5 em 2022;
- Selic: 4,5% em 2019, 2% em 2020, 4% em 2021 e 4,75% em 2022;
- PIB: 1,4% em 2019, – 4,5% em 2020, 3,5% em 2021 e 3% em 2022.
A partir dessa análise, você já consegue ter algumas perspectivas para o IPCA. Quer comentar alguma coisa? Deixe a sua visão sobre o assunto!